Produção terceirizada deve crescer 15% até o fim de 2014

O avanço da inflação no País tem levado os consumidores a optarem por itens mais baratos, favorecendo a expansão da produção terceirizada. Com isso, as indústrias que fabricam produtos para marcas próprias já esperam encerrar o ano com pelo menos 15% de crescimento no faturamento.

  

Embora o primeiro semestre tenha sido difícil, com a economia desaquecida, as marcas próprias tiveram desempenho melhor quando comparadas às marcas tradicionais, diz a presidente da Associação Brasileira de Marcas Próprias e Terceirização (Abmapro), Neide Montesano. “Esses produtos geralmente têm um faturamento entre 2,5% e 3% melhor”, conta.

 

Os produtos de marca própria são em média 15% mais baratos que os similares e, mesmo com a inflação em alta, conseguem manter a competitividade. “Se considerarmos a inflação, as marcas próprias mantêm preços em média 8,5% mais baratos”, contabiliza a presidente da Abmapro. Ela usa como referência o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que está no patamar de 6,51% no acumulado em 12 meses.

 

Questionada sobre o desempenho do segmento em eventual cenário de queda nos preços, Montesano garante que a tendência de crescimento das marcas próprias se sustenta. “A crise [econômica] nos ajuda de forma eficaz na experimentação do cliente. Porque depois que a qualidade do produto é percebida, as marcas conseguem fidelizar esses clientes.”

 

Aposta

Superada a falta de conhecimento dos consumidores sobre a qualidade dos produtos, a fidelização é garantida, como afirma também a gerente de marketing e vendas da Lençobrás, Alejandra Orenstein. A empresa, que fabrica lenços umedecidos na cidade de Barueri, tem 90% da sua produção destinada a marcas próprias, sendo que 30% dos produtos são importados para o Chile, Colômbia e Bolívia.

 

“Eu vejo os mercados apostando cada vez mais na marca própria, porque o varejo percebeu que, em períodos de crise, as pessoas se permitem experimentar e procuram itens mais baratos”, avalia.

 

A Lençobrás, que registrou crescimento de 30% no faturamento no primeiro semestre, prevê manter o ritmo de expansão da produção até o próximo ano. “Nós investimos em novas máquinas e podemos triplicar a nossa capacidade produtiva”, afirma a gerente.

 

A decisão da empresa de ampliar os negócios visa atender o aumento gradual da demanda em todo o País, observado nos últimos anos.

 

Segundo a presidente da Abmapro, nos últimos sete anos as empresas do segmento crescerem a uma taxa anual de 10% a 15%. Considerando a estimativa, as indústrias de marca própria viram o faturamento mais que dobrar nos últimos anos, o que ajuda a explicar o otimismo dos empresários com o futuro.

 

Um bom exemplo é a empresa mineira Emifor, que produz alimentos para marcas próprias de importantes redes varejistas como Pão de Açúcar, Carrefour, Walmart e Roldão. Com nova fábrica inaugurada em junho, a previsão é que a produção da empresa aumente 32% nos próximos meses e encerre o ano com 20% de crescimento no faturamento.

 

Para o diretor comercial da Emifor, Zanone Campos, o mau momento vivido pela economia favorece as indústrias que não produzem itens de marcas tradicionais, porque essas empresas têm um custo menor, sem os gastos com publicidade e marketing para promoção dos produtos.

 

“O custo hoje é, notadamente, a nossa maior vantagem em relação às marcas”, explica Campos.

 

Participação

 

Levantamento feito pela empresa de pesquisas Nielsen e divulgado pela Abmapro, indica que 183 indústrias de bens de consumo já são responsáveis pela produção de 64.242 itens de marcas próprias em todo o País. Os itens de alimentos e limpeza são os que mais se destacam, mas produtos de higiene e beleza ganharam espaço nos últimos anos.

 

Para o analista de mercado da Nielsen, Jonathas Rosa, o País tem no Chile um modelo de exploração de mercado. Por lá, as marcas próprias tem 97% de penetração nos domicílios, percentual 30% maior que o registrado no Brasil. A pesquisa de mercado desenvolvida pela Nielsen sugere que as empresas podem optar pela exploração de categorias específicas de consumo para ampliar a sua participação no País, que tem como maior atrativo, o tamanho do mercado consumidor. E indica que, mais bem explorados, alguns itens têm potencial para ampliar a demanda, como papel higiênico, sabonete, xampu, cremes, margarina e iogurte.

 

Futuro

 

O bom desempenho no varejo vem garantindo a expansão da indústria do segmento. Segundo dados divulgados pelo Grupo Pão de Açúcar, no relatório do segundo trimestre de 2014, as marcas próprias têm apresentado crescimento expressivo e atingiram participação superior a 10% das vendas nas bandeiras Pão de Açúcar e Minimercado Extra.

 

O foco dos lançamentos de produtos alimentares neste ano, segundo a presidente da Abmapro, tem sido os produtos saudáveis, como os orgânicos. E nas linhas de não alimentos, as inovações se concentram na renovação das embalagens e novas tecnologias aplicadas aos produtos.

 

“Esses investimentos em ampliação da produção e inovação sinalizam uma oferta maior de produtos no futuro e, com isso, garantem que atenderemos a demanda sem pressionar os preços”, afirma a presidente da associação.

 

Mantida a previsão de baixo crescimento da economia para o próximo ano, mesmo com o recuo da inflação, Montesano acredita que as marcas próprias serão cada vez mais uma opção atrativa para as indústrias. “As empresas podem ver nesse segmento uma opção de diversificação dos negócios, que pode garantir o faturamento mesmo em períodos de retração do setor”, explica a representante da Abmapro.

  

Fonte: DCI