Brasil precisa crescer 4% para dobrar renda em 20 anos

Especialistas avaliam que seriam necessárias mudanças não só na política fiscal como também na política industrial, já no próximo governo, para permitir dobrar a renda per capita do brasileiro em 20 anos, ao mesmo tempo em que a economia cresça de forma sustentável e com produtividade.

 

De acordo com o economista José Luís Oreiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para tanto, é necessário que a taxa média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seja de 4% ao ano nas próximas duas décadas. A expectativa é que, neste ano, a economia apresente expansão em torno de 2%.

 

Contudo, essa estimativa é bem diferente daquela prevista pelo Ministério da Fazenda no final do ano passado. “A expectativa era de que em 15 anos, essa renda seria duas vezes maior, mas isso, hoje, só é possível se tiver um crescimento econômico de 5,5% [e não de 4%, como apontou o ministro Guido Mantega, em setembro de 2013]. Com avanço de 4%, esse objetivo [de melhorar a qualidade de vida do brasileiro] será alcançado só em 20 anos, o que é mais factível”, afirmou.

 

Ao participar do seminário Indústria e Desenvolvimento Produtivo no Brasil realizado Escola de Economia em São Paulo (EESP) e o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), ambos da Fundação Getulio Vargas (FGV), Oreiro disse que as medidas necessárias para esse fim devem ser tomadas na próxima gestão da presidência da República, independentemente de quem for eleito.

 

“Minha proposta, independente da proposta de qualquer candidato, é que dentro da política fiscal tenha um regime de meta de superávit com gastos em conta corrente. Seriam dados aumentos graduais nessa meta, até a ponto de atingir 5% em 2025”, sugeriu. Atualmente a política fiscal foca na meta do superávit primário – economia para o pagamento dos juros da dívida pública – , que em 2014 é de 1,9% do PIB.

 

Combinado com essa medida, ele aponta, conforme a maioria dos especialistas, a contenção dos gastos com custeio da máquina pública, e um aumento da tributação em setores, cuja cobrança é baixa, como mineração.

 

Além disso, o economista aconselha uma política cambial com um sistema de bandas cambiais “deslizantes” e uma política monetária em que a meta da inflação seja estabelecida a médio prazo. “Seria alterada [a meta] a cada três anos e não mais no ano-calendário, e que o intervalo de tolerância seja reduzido gradualmente”, disse.

 

O professor da FGV e ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, afirma que o próximo governo federal deverá adotar um superávit primário estável de qualquer forma. “O modo de se fazer isso é um resultado primário que reduza a dívida bruta. Pelos cálculos da FGV, o resultado primário para reduzir a dívida bruta é de 2% a 2,5% [do PIB], menor que o resultado que o superávit deve ser para reduzir a dívida líquida, entre 3% e 3,5%”, explica.

 

Já na avaliação do pesquisador do Ibre/FGV, Samuel Pessoa, também presente no evento, um crescimento econômico sustentável depende de uma taxa de poupança maior. “Uma população que poupa pouco, consome muito ‘serviço’ e prejudica a indústria. O empresário prefere se especializar em serviços, do que na industrialização”, entende.

 

Oreiro, Barbosa, Pessoa e os demais especialistas também apontaram mudanças na política industrial como forma para ter uma economia mais sustentável e produtiva. O setor representa 25% do PIB.

 

Segundo o professor da FGV, Nelson Marconi, o processo de desindustrialização que ocorre no País, embora contestada, é “precoce”. “O argumento que existe sobre a estrutura produtiva, é quando um país fica mais rico, a demanda muda. Quando o nível de renda da população é baixo, esta demanda mais produtos primários para satisfazer suas necessidades básicas. À medida que a população fica mais rica, procura produtos com maior valor agregado, e se atinge um nível mais elevado, proporcionalmente, demanda produtos de setores chamados de moderno como serviços de lazer, consultoria, entre outros. Ou seja, se a população fica rica, ao longo do tempo, a indústria sofre um processo de desindustrialização. Isso ocorreu em várias economias, mas no Brasil ocorreu antes desse aumento de renda”, justifica, ao acrescentar que o ritmo fraco da economia atualmente é devido a esse fato.

 

Para ele, um real mais desvalorizado, com taxas entre R$ 2,90 e R$ 3,00, combinada com políticas que compensem o importador, juros baixos são soluções que o próximo governo “deveria” pensar nisso.

 

O economista Yoshiaki Nakano, diretor da EESP/FGV, avalia que esse “estancamento do processo desindustrialização” do Brasil será resolvido com a implementação de reformas que acabem com o que chama de “trio mortal”: câmbio valorizado, juros altos e política fiscal descontrolada. De acordo com ele, a consequência disso é baixa taxa de investimento de 18% do PIB, quando o necessário é de 25%.

  

Fonte: DCI